sábado, 3 de junho de 2023

 A mim, Ele me ensinou tudo

Ele me ensinou a olhar para as coisasEle me aponta todas as cores que há nas floresE me mostra como as pedras são engraçadasQuando a gente as tem na mão e olha devagar para elas

(Alberto Caeiro)


sexta-feira, 2 de junho de 2023






 Já fui árvore altaneira,

De fundas raízes, frondosa.

Já dei sombra, dei madeira,

Consideraram-me a mais formosa.

Mas veio um vento de Norte
Um temporal negro, medonho
Que me sacudiu tão forte,
E me torceu num remoinho,
Fazendo que visse o fim, anunciando a morte.
Hoje, jazo nesta margem.
Já sou só um tronco aberto.
Apodrecendo pouco-a-pouco.
E vou assistindo à passagem,
Deste tempo "encoberto",
Destas águas e deste povo.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

 O inesquecível é feito de pau... da mais impura matéria.

É feito de tudo o que infecta,

De sangue a correr na artéria.

De toda a palavra abjecta.

É uma pena que esvoaça

Ao sabor de um momento

Navegante numa barcaça

Toda feita de pensamento.

É tormento e agonia

Que aflora de um canhão

É garra de gavião...

É mosto, com cheiro de maresia.

domingo, 2 de maio de 2021

 Mãe

O soro quente que brotou do teu seio

Calou o meu primeiro choro de vida.

Com a segurança e o calor do teu colo

Afugentaste os meus sonhos mais terríveis.

Com o conforto do teu abraço

E a segurança das tuas sábias palavras,

Deste-me a coragem para caminhar e

A segurança para enfrentar desafios.

Com o teu exemplo aprendi a respeitar

Com o teu amor, apreendi a amar.


Mãe 

Quando julguei que cresci

Quando me convenci de que tudo na vida sabia

Deste-me espaço para aprender, errando.

Quando as certezas começaram a tornar-se dúvidas

Disseste-me para confiar.

Disseste-me que estarias sempre ao meu lado.


Mãe

Assim tem sido ao longo de duas vidas

A tua e a minha, que são uma só.

Mãe,

Hoje ainda tenho medo... tenho medos.

O maior de todos é saber que chegará o dia

O dia em que deixarei de te ter,

De ter o teu abraço, o teu conselho...

O afago dos teus braços e dos teus olhos.

O maior de todos, é saber que um dia

Vou deixar de poder... pedir o teu conselho.


Mas antes que esse dia chegue, Mãe

Vou querer que todos os dias das nossas vidas,

Sejam Dia de Mãe.

terça-feira, 27 de abril de 2021

 Vivemos na era dos "alerta".

Nunca antes haviam surgido, vindos de todas as bandas, exibindo alguns, "certificado científico", tantos alertas sobre tantos e tão diferentes "perigos".

Antes, porque o conhecimento era menor e as comunicações mais demoradas, os cientistas menos e as tecnologias de ponta inexistentes, sabia-se por empirismo; uma ancestral(ciência) que conseguiu trazer o ser humano das cavernas às cidades.

Hoje, as máquinas, os computadores, as inteligências artificiais, os algoritmos e umas quantas inteligências sobredotadas, alertam-nos. Mas quais são os "alerta" ue tão prodigamente distribuem...?

Alertam-nos para o surgimento de graves conflitos armados, pandemias incontroláveis, para futuras carências de bens alimentares essenciais, para graves alterações climatéricas e consequentemente, para graves ocorrências de fenómenos meteorológicos e geológicos extremos. Alertam-nos para o aumento insuportável da temperatura do globo, para a destruição da camada protetora do ozono, para... a extinção das espécies que habitam o planeta.

E todos estes alertas terminam sempre com outro alerta extremamente preocupante: está nas mãos da humanidade, fazer tudo para inverter o sentido ascendente e crescente desta tenebrosa espiral. Alertam-nos portanto para a necessidade de  uma utopia coletiva.

Que podemos, os cidadãos conscientes e profundamente empenhados em fazer inverter o sentido e o crescimento da espiral demolidora? 

-Deixar de utilizar transportes privados (poluentes , mesmo os "ecológicos"). As alternativas serão a deslocação a pé (o único transporte privado inteiramente não-poluente.

-Passar a cultivar os alimentos que cada um necessita, sem recurso a pesticidas, fertilizantes, etc.

-Passar a confecionar os agasalhos recorrendo unicamente ao uso das fibras vegetais, sem a intervenção de qualquer equipamento mecânico, desde o cultivo até à manufaturação.

Ou seja: Alertam-nos de que deveremos voltar às cavernas mas, sem levarmos utensílios que consideramos ser necessários e julgamos não ser possível a vida sem eles.


-Abandonar a vida em sociedade, passar a viver isolados.


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

À minha amiga Olinda... ;)


Lá vem D. Sebastião,
Com seu gibão esfarrapado,
A espada quebrada, na mão.
E o cavalo estrambelhado.

Vem para resgatar o país,
Deste estado de anemia,
Em que ninguém sabe o que diz,
Em que é grande a entropia.

Vem por entre o nevoeiro,
Num passo cambaleante,
Perguntando ao seu escudeiro:
Que país é aquele, adiante?

Responde-lhe o servo atento,
Com alguma hesitação:
Se for Portugal, como penso,
Reina lá grande confusão.

Que vês tu,  fiel servidor?
Pergunta D. Sebastião.
Vejo fome, desmando e dor.
Vejo enorme agitação!

Estás certo de ser o meu reino,
Que enxergas lá adiante?
Os montes e rios, são-no!
Mas tem muito mais meliante.

Dá a volta então meu bom aio,
À terra dos infieis, tornemos.
Antes que nos atinja um raio.
E a ser portugueses voltemos.

sábado, 15 de junho de 2013

Desisto!

Perguntou-me: Então, como vai ser...
Pensei: Seja como for, vai ser. Mesmo que não chegue a ser, será.
Respondi-lhe: Vai ser. Tenho a certeza que será.
Continuou a tirar a roupa e repetiu a pergunta, acrescentando; não te despes?
Respondi-lhe: Nem pensar, tenho frio.
-Mas vestido, não vai dar.
(não vai dar? nesse caso terei de pagar..)
Desisto!