quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Simbiose

Já velhinho mas ainda com um bozeirõe quinté me faz arrepios nos testículos:


Hoje não me apetece versejar... talvez rimar.
A minha amiga querida de Seu nome Inês, direccionou a minha atenção para uma reflexão. A questão da originalidade e daquilo que vulgarmente se designa por plágio.
Ora bem, creio que este assunto, para ser bem "debulhado" obrigar-nos-ia a regredir uma montanha de tempo... no tempo. No meu caso levar-me-ia a uns milhares de anos atrás... ou seria... à frente. Ai meu bom Deus, que se me está a surgir nova dúvida. Bom, vamos concentrar a atenção nesta, para já. Dizia eu que ha uns milhares de anos atrás, ainda não conhecia a palavra simbiose, muito menos o seu significado, iniciei uma viágem que me levou desde a ásia central, até lá cima à zona do litoral ocidental da Galiza. Não fiz a viagem de uma assentada, obviamente, até porque ainda não existiam estradas nem veículos, aquilo que é hoje desigando por Europa, era uma zona geográfica repleta de animais selvagens e de montanhas, e o clima era lixado. Resumindo, para conseguir chegar à Galiza, precisei de morrer e nascer um porradão de vezes. Morrer foi fácil. Uma vez porque um sacana de um tigre dente de sabre me deu uma patada que me botou a tripalhada toda de fora, outra porque um urso que me apanhou desprevenido e me filou o cachaço, outra porque um auroque marado dos cornos me afinfou uma marrada que me atirou pró malagueiro... resumindo, antes de chegar a metade da jornada, já tinha batido a pataleta e renascido umas centenas de vezes.
O engraçado da questão é que comecei a notar que em cada renascimento, vinha encontrar tudo diferente daquilo que tinha deixado.
É!
O pessoal começou a aparecer vestido com umas peles, começavam a conseguir comunicar-se através de sons e de gestos, juntávam-se à noite em volta do fogo e partilhavam o alimento e as experiências, olhavam para as pedras, os paus e os ossos e imaginavam objectos e utensílios e adornos a que depois davam forma.
E... facto a que dei muita importância. Passaram a substituir a técnica da paulada na cabeça da fêmia, o posterior arrastamento pelos cabelos até à caverna e a consequente cópula, pela dança da sedução. O processo tornou-se mais trabalhoso, mas os resultados foram compensatórios. A humanidade aumentou exponêncialmente.
Nesta época, eu ainda não tinha ouvido falar naquilo que afinal tem sido o verdadeiro responsável pela evolução humana, o código genético. Essa espiral constituída por cromossomas que armazenam toda a informação que nos define no estado actual e que afinal, é a soma das transformações operadas desde que iniciei essa viàgem ha milhares de anos.
Onde nos conduz todo este arrazoado ? Perguntais vos com toda propriedade...
Tudo aquilo que fica dito, conduz-nos em primeira instância à grande questão levantada públicamente pelo Guilherme, aquele rapaz que adorava sacudir a pêra, conhecido pelo nick-name de Shakespeare. Perguntou ele no 3º acto do seu "Hamlet" em tom desafiatório, ao maralhal... "to be, or... not to be"... "that is the question?"
Claro que foi esta "question" que fez com que aqui o cromo se mantivesse a caminhar desde ha milhares de anos, passando consecutivamente pelo processo do renascimento.
Mas... e a resposta a tão inquietante pergunta?
Surge 100 anos depois, pela autoria do Renato, aquele filosofo francéis que todos conhecem pelo nomezinho de Descartes, disse o moço: "Dubito, ergo cogito, ergo sum" oh seija... "Eu duvido, logo penso, logo existo".
Ai o caraças... então afinal, é que é que ficamos?
Para tentar desonevlar a "coisa", tive de voltar a fazer um exercício de memória e recordar-me de comé ca "coisa" tinha aumentado de tamanho. E então, pé ante-pé, lá fui chegando à conclusão que foi precisamente o plágio que me fez evoluir.
É verdade!
É que, de cada vez que evoluí, foi porque adaptei aquilo que alguem me contou e que posteriormente contei a alguem, que por sua vez contou a outro e por aí adiante.
Voltando à questão do Abana a Pêra "ser ou não ser" e à resposta do Des, "cogito", encontro o encadeamento lógico para tudo.
Assim sendo, e porque imagino que quem conseguiu chegar até aqui na leitura já esteja fartinho de me aturar, vou resumir.
Em minha opinião, nada é absolutamente inédito. Tão pouco os pensamentos, visto que esses são sempre fruto de uma aprendizagem que se obtem através da imagem e do som, mas sempre vinda de uma fonte que por sua vez a obteve de outra, and so, and so, and so.
Já aconteceu a todos, penso eu, estarem a ouvir alguem falar pela primeira vez de determinado pensamento, ou ideia e pensarem... olha! eu já tinha pensado precisamente nisto, como é que este bacano foi ter precisamente o mesmo pensamento que eu?
Hmmm?
Ah o título! Já quase me esquecia. Bom "simbiose" tem origem no Grego (Zorba) deriva da junção de sýn, juntamente + bíosis, modo de vida.
;)
Então minha querida Inês, na minha humble opinion, a cena toda já vem de muito longe e fundamenta-se na necessidade de partilhar experiências, conhecimentos, opiniões, medos, desejos, paixões e... mentiras, muitas mentiras, afinal, secalhar a nossa existência não passa de uma mentira sem tamanho.
Quécáxas?
;)))

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Fui "picado" por uma Rosa... dos Ventos

Um dia, hei-de conseguir colocar uma música, sem ser necessário que os meus amigos recorram ao Youtube, até lá...
http://www.youtube.com/watch?v=o26SlmROH5Q

Perco-me divagando, em rastos antigos
Em sombras e sons, nos ventos perdido
Acho-me, dispersso em toscos abrigos
Busco em tudo, para tudo, um sentido

Encontro amigos, nas mãos ancorados
Peregrinando, em busca de um sonho
Todos em mim e, eu neles amparados
Trocando saberes com um ar risonho

E... Reinvento-me a cada curva fechada
Rio, com cada raio de sol que me aquece
Adormeço, em cada floresta encantada
Persigo aquele sonho que não me esquece
;)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Será que um dia me irão nascer guelrras...?

Quando o meu tempo findar
Não enterres o meu corpo
Entrega-o sim, mas ao mar
Sê do meu desejo arquétipo

Não quero que bichos o comam
Nem que a terra o desfaça
Quero que os fundos recolham
Os restos d'esta barcaça

Quero o seu descanso eterno
Entre as algas e corais
Como que ao ventre materno
Voltando pelos seus ais

Quando o meu tempo findar
Entrega-o naquela morada
Sem esquife ou cortejo a acompanhar
Só o corpo, nu, sem mais nada!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

E Tu... Quem És?

Sou a mistura de terras desconhecidas
De águas muitas, claras, mas bravias
De sóis escaldantes, de ventanias

Sou a grêta que se abre em terra estéril
Sou o verbo, sou, o desejo incumprido
A flôr que desponta ao sol primaveril
Sou, o bravo guerreiro já de lutas abolido

Sou filho de amores... e de sonhos grandiosos
Sou actor profano de peças reescritas
Percorri caminhos, galguei escarpas ardilosas
Bebi amores, vomitei cruas desditas

E... da terra à terra, retorno sempre esperançoso.
E tu... Quem és?

domingo, 16 de novembro de 2008

Lua

http://www.youtube.com/watch?v=G82VUCzrhQo&NR=1

Sinto-te chegar, como sempre envolta em teu manto mágico de poeira luminosa.

Entras em silêncio pelo quarto, nua, lânguida, diáfana, vagarosa, querendo encantar-me.

Traças pelo chão, pela cama a tua presença, até que, subtilmente tocas o meu corpo nu que ansioso aguardava pelo teu.

Morna, acaricias-me a pele num arrepio cósmico, fingindo querer acordar-me, sabendo que não dormia.

De novo, como sempre, marcas-me no corpo os teus desejos, como se meus fossem. Deitas-te comigo, amas-me, envolves-me nos teus braços, sonho-te estonteante no meu leito,enquanto foste a minha pele.

Depois, sem um beijo, passas para lá da vidraça ainda aberta, regressas ao teu firmamento encantado ondede danças com as estrelas, deixando-me a pensar se me amas realmente, ou se o teu encanto que me encata não passa de um castigo que mereço.


Amanhã , se ainda fores nova lua, cá estarei, despido sobre o meu leito, esperando pelo teu abraço.

;))

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O Sabor e a Vista

Brincando um cadito cos sons:
http://www.youtube.com/watch?v=klKCQZJEFlA&feature=related

Inicia-se agora, a época do ano que muito me agrada. Não direi que seja a que mais me agrada, porque dedico a minha preferência à Primavera e ao Outono. Contudo, a aspreza dos dias genuínos de inverno, confere-me uma sensação de bem-estar interior, quase insuperável.
Os fenómenos meteorológicos próprios da época, a nudez dos campos e das árvores, o recolhimento das gentes, faz-me sentir como se o mundo fosse só meu. É estranha esta agradável sensação, mais estranha ainda, por que não tem a ver com o meu carácter natural. Isto, porque gosto de interagir, de conversar, de initimizar, de perguntar, de sentir a naturalidade e genuinidade dos locais e das pessoas. Não prefiro o campo interior ao litoral, não me extasio mais no cimo de uma montanha nortenha, que perdido no meio da planície alentejana. Ah a propósito, adoro perder-me por caminhos desconhecidos. Parece estranho e contraditório este gosto, na medida em que vai no sentido oposto àquele que è "normal". Um dos locais onde me deu prazer perder-me foi no "Pulo do Lobo", concelho de Mértula. Bah... para ser sincero , não cheguei bem a perder-me, pois sem recorrer a indicações de ninguem, passado pouco tempo, encontrei o caminho. A paisagem que se disfruta no Pulo do Lobo, é algo de extraordinário, contudo, é a sensação do inóspito e do vazio que nos conferem a sensação do eterno. O espaço, o silêncio, o abrupto, o insólito da paisagem que parece um pedaço de superfície de outro planeta, levam-nos a reflectir sobre a dimensão universal da existência. Depois, ha outro aspecto que me regala nesta época. A gastronomia. Nunca me sabe tão bem como no Inverno, depois de percorrer estradas de montanha, geladas e solitárias, uma refeição confeccionada da forma tradicional, com os produtos da região, tomada num restaurante de estrada, sobretudo se no interior crepitar um lume, seja de lareira, ou até de salamandra. As carnes, os legumes, o pão, o vinho e os doces.... aiii os doces, sabem-me pela vida, como costumava dizer a minha avó. E a acompanhar tudo isto, a conversa interessada dos donos da casa.
Bom, está a chegar-se o fim de semana, quem sabe o menino Bartolomeu solta as amarras e vai por aí à descoberta de novos espaços, ambientes e paladares!?

sábado, 8 de novembro de 2008

Return To Innocence

Tal como ja alguem disse não me recordo quem, quando ou onde... "É sempre possivel ouvir uma música enquanto se lê um post"... ou vice-versa.

;)

http://br.youtube.com/watch?v=9_ALElMLpRA



Pois é... a possibilidade de regressar à inocência é, por ventura, o desejo mais ambicionado pela generalidade dos seres humanos que ja ultrapassaram a famosa barreira dos 40 anos.

Quem sabe, se este desejo esconde, ou semi-descobre um outro mais genuíno, o de readquirir a liberdade que se vai perdendo, na mesma proporção que vamos adquirindo anos de idade.

Jerónimo o grande chefe Apache e Dalai Lama o grande líder espiritual di povo Tibetano, são dois paradigmáticos exemplos deste desejo. Admiro sobremaneira a ambos, apesar de representantes de civilidades, culturas e religiosidades díspares. Contudo, ambos altos responsáveis pelo destino de povos invadidos e espoliados por invasores que contra eles não tinham a menor causa, queixa ou motivo de retaliação. O móbil destes abusos de poder com recurso a assassinatos massivos, foi unicamente alimentado pelo desejo desenfreado da conquista, subjugação e roubo.
A meu ver, aqueles dois grandes chefes, tal como muitos outros, possuíam uns e possuem outros, corações que mantêm viva a chama da inocência que os motiva e encoraja a resistir à onda predatória dos invasores.
A luta pela liberdade não é o princípio do fim, mas sim, o regresso à inocência!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Restolho

Podemos sempre escutar uma canção enquanto se lê um post: http://www.youtube.com/watch?v=E5GtsPP44PA
;)

É preciso morrer e nascer de novo...
O desejo de renascer é um sentimento que nos assalta o espírito em determinados momentos da vida. É um mito que a humanidade compreendeu desde que assistiu pela primeira vez ao renascimento luxuriante de um prado, após ter sofrido o efeito devastador do fogo. Falta-nos contudo, o poder de controlar a decisão, com a garantia do sucesso final. Para tanto, diferentes características originais teríamos de possuir. Uma delas seria a ausência de capacidade de raciocínio, ou de inteligência, que nos permitisse imolar-nos, mas sobretudo que nos indicasse clara e inequivocamente o momento certo em que essa transformação deveria ocorrer.
Complicado, não é verdade?
Prevendo que um dia iríamos estar aqui a tecer considerações acerca desta evidência, a "grande consciência" equipou-nos com outro potêncial regenerador: oferecendo-nos os sentidos, aqueles que nos permitem apreciar, desejar e voltar a apreciar. Ou seja, permite-nos renascer em cada desejo, autorizando-nos a desejar um novo dia como forma de contornar a imolação pelo fogo, não necessitando de correr o risco imponderável do não-renascimento.
É que ha sementes difíceis de germinar...
;))))))
E a vida não é, existir sem mais nada
E a vida não é, dia sim dia dia não.
(mas sim)
Semear no pó... e voltar a colher!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Redacção

Quando frequentei a escola primária... era um miúdo, usava-se, mandar escrever uma redacção.
Adorava aquela coisa de escrever acerca de algo que o professor nos indicava como tema.
E escrevia que me fartava, tal como hoje, dando erros d'embarda. A maior parte deles por pura distracção, outros porque efectivamente tenho dúvidas acerca da ortografia, mas, mais do que dúvidas, tenho perguiça (ou será preguiça?) de procurar no diccionário a forma certa de escrever a palavra.
Ah mas se escreveres o texto préviamente no word, não precisas de ter trabalho a procurar no diccionário... Ah pois é, só que, se escrever no word, depois de utilizar o corrector ortográfico, vou ter de fazer copy-past, ou seja, assinalar o texto com o botão do lado direito do rato, em seguida pressionar as teclas control-c, abrir a caixa de mensagens no blog, assinalar a linha e pressionar as teclas control-v.
Ufah, que trabalheira, já viram bem?
hihihihihi
Na, não é bem pelo motivo de enfado (foi só para não voltar a escrever perguiça).
É sobretudo porque escrevo de rajada, ou seja, de seguidinha, o que conflitua com "frescuras" de composições ortográficas e gramaticais.
A que propósito é que escrevi isto?
Ora, porque me lembrei que gosto de escrever desde o tempo da instrucção primária, ou seja, práticamente desde o início do mundo!
;)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Parado, quero avançar

Parado, quero avançar
Mas espero, paro para pensar?
Ou... penso em parar?
Não! Eu quero andar!

Hoje vou voltar
Aqui, a este lugar
Sem saber ainda o que esperar
Deste novo regressar

Vou-me sentar a olhar
Olhando o meu andar
E de quem me vem visitar
Conversando com quem quer conversar

Parado, quero avançar
Quero rir e gargalharar
Avançar por avançar
Ou... porque o caminho é andar.

;))))



quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Lua e o Céu

Um de nós já não sou eu
E esta lua que nos abraça
E que até já se escondeu
Evitando o reflexo do nosso olhar
Ciumenta de um amor que a alvoraça
Porque, presa ao firmamento, assim nos vê arrolhar

Serena noite de luar
Em que a brisa morna como beijos, passa
Parecendo não nos querer tocar
Porque sabe que o meu corpo e o teu
São desejo, lume e brasa
Que só se acalma e se extingue no teu céu

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Stolen Memories

Dedicado à minha amiga Silence do "http://wordsnever-tell-u.blogspot.com/" pelo seu post com o título plagiado.
;)
Sento-me ao piano e vou... recordando as imagens de uma vida.
Sinto a tua presença ao meu lado e de novo o aroma dos teus cabelos invade-me os sentidos, tão real e suave como quando nos sentávamos no nosso rochedo da praia olhando o mar imenso.
Fomos jovens e o nosso amor não conheceu limites temporais, somente os sentidos e as emoções governaram os nossos desejos e nem o espaço físico nos limitou. Quando nos amávamos fomos aves conquistando o espaço, fomos cavalos alados galopando o infinito, fomos estrelas que brilharam num universo privado.
Dizem-me esta casa vazia e os objectos empoeirados que já partiste ha muito...
Só eu sei que não é completamente verdade. Ainda te vejo sentada no terraço do jardim, lendo, ou de olhar perdido no espaço das memórias, ou poisado nos ramos das roseiras que carinhosamente continuo a tratar com desvelo para ti.
Fico muitos dias olhando para ti não me atrevendo a penetrar nesse teu mundo fantástico, respeitando a distância entre o teu espaço etéreo e o meu, material, mas tão irreal quanto o teu, tão inatingível para mim.
Queria poder voltar a tocar-te, a acariciar de novo o teu rosto o teu corpo, queria poder beijar-te outra vez, mais vezes, milhões de vezes... queria dar-te ainda e receber de ti a infinidade de beijos que ficaram por dar, queria poder voltar a ter-te nos meus braços...
Sento-me ao piano e vou... dedilhando uma saudosa melodia , um hino, uma prece acompanhada com um verso de Camões: E... se lá no assento etéreo onde subiste... memória desta vida se consente... pede a Deus, que teus anos encurtou... que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus braços te levou...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Estaria ela onde eu a via?

Alberta, lânguida, acercou-se para me anunciar que o almoço iria ser servido dentro de cinco minutos. Em seguida, afastou-se sem mais palavras, deixando prendurada nos meus olhos a imagem das suas nádegas firmes subindo e descendo alternadamente, acompanhando o rítmo dos passos que a afastavam.
Poisei na mesa ao lado do sofá o livro que antes lera e, deixei que a absorção dos pensamentos me tranformasse instantâneamente num viajante ao reino efemero dos sonhos.
O comer começa a arrefecer e depois perde toda a graça, ouvi a voz de Alberta sentenciar enquanto emergia daquela saborosa letargia.
Não mexi um único músculo, tentando que aquele momento de puro prazer se prolongasse mas, notei contudo que a presença de Alberta se mantinha a meu lado, muito próxima, sentinela atenta, exigindo que me movesse à sua ordem de comando.
Rodei a cabeça na sua direcção e observei-lhe directamente o rosto, nunca durante dez anos o havia feito daquele modo. Senti uma vertingem brusca, ao poisar o olhar na face de Alberta , que se apresentava serena, diligente, meiga até, apesar de ligeiramente inquisitória e me olhava tambem directamente nos olhos.
Vamos? perguntou Alberta estendendo-me a sua mão esquerda, convidando-me a segui-la, rodando sobre si mesma no sentido da sala de jantar.
Levantei-me sem pressa, tentando reconhecer se a sensação de flanar era real, ou mera sugestão. Deu um só passo e voltou-se de novo, agora o seu rosto oferecia-me um sorriso resplandecente. Segurei-lhe a mão com firmeza e dei o passo que nos separava, colocando o meu corpo junto ao dela e, sem desviar os meus olhos dos seus um só milímetro, aproximei os lábios das pétalas carmim já entreabertas que Alberta abandonava ao desejo do meu beijo sôfrego.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Experiência... 1, 2, 3, experiência...

Tive hoje a minha primeira experiência Omo sexual!!!
Não percebo porquê o vosso olhar de admiração e estranheza!?
Aliás, já ouvi muito boa gente afirmar que em matéria de descoberta sexual, andamos todos sedentos de novas experiências, muitas vezes, tolhe-nos o preconceito e (ou) os princípios morais, sociais, bla, bla, bla.
Mas, tal como afirmei ali atrás... não tirem conclusões apressadas... não é nesse atrás, é ali... 5 linhas atrás, bom, tal como afirmei, de um mero acaso, ou seja, de uma situação absolutamente inesperada, ocorreu a minha primeira experiência Omo sexual, eu conto...
Ficou-me dos tempos de O x ford, o habito adquirido de lavar a roupa interior do dia anterior (ou seria a roupa anterior do dia interior?) durante o banho matinal.
É! Todos os dias tomo um bom banho de imersão, mais ou menos prolongado, mas sempre sem excepção, altamente relaxante e revigorante e, vá-se lá saber porque carga de água, aproveito e no final lavo a bela da cuequita que fica invariávelmente a secar, depois de convenientemente torcida, no varão inferior do toalheiro (estou a maça-los com tantos promenores?).
Voltando a O x ford, ou melhor, desde esses tempos que ensaboo a cueca com o mesmo sabonete ou gel de banho com que ensaboo o corpinho, este corpinho lindo, onde os músculos se deliníam excelentemente, fazendo lembrar uma estátua grega.
Porem, hoje, ao dar início ao banho diário, notei que me faltavam tanto o sabonete como o gel e, já de banheira cheia, decidi procurar alternativa. Rebusquei nos armários e encontrei unicamente os detergentes da roupa e da loiça. Optei pelo da roupa, o da loiça faz imensa espuma, o que levaria a que a esta hora ainda estivesse a tentar retirar aquela película escorregadia da pele.
Assim, peguei no pacote do Omo e corri desenfreado para a banheira que me aguardava ostentando aquele jeitinho de corpo de mulher, onde o desejo brilha em cada poro e a que um rapaz possuidor de um corpinho lindo, onde os músculos se deliníam excelsamente, fazendo lembrar uma estátua grega (ha aqui alguma coisa que me soa a dejá-vue), não consegue resistir.
Entrei, sentei-me, deitei-me, mergulhei a cabeça na água morna-quente e senti o corpo e os sentidos serem invadidos por uma sensação de lascívia e ausência de peso.
Arrancou-me daquele doce torpôr o arrefecimento da àgua, lembrando-me que tinha chegado a hora de dar início ao ritual habitual, adquirido em O x ford.
Sentei-me de novo, abri as pernas, peguei a cueca numa mão, o pacote do Omo na outra (ou foi a cueca na outra e o Omo na uma?), despejei um pouco de pó sobre a cueca, mergulhei-a e dei início à competente esfrega.
Rápidamente cresceu uma espuma abundante , que fez com que a parte dos meus punhos que roçavam as minhas pernas, me provocassem uma sensação voluptuosa. Esta sensação cresceu imensamente, fazendo com que me esquecesse das cuecas e abandonasse a lavagem, passando a dedicar toda a minha atenção àquele membro lindo, onde os músculos se deliníam excelsamente, fazendo lembrar... ai caramba... agora esqueci-me o que é que aqueles músculos me lembram, bem, adiante... onde é que eu ia? Ah... ía já quase a entrar na zona do red line, pois.
E foi assim mesmo que sucedeu a minha primeira experiência Omo sexual. Mas posso garantir-lhes que o slogan da marca é anganoso, constatei que afinal o Omo não deixa "tudo" mais branco, pelo menos no meu caso, aquele tom de pele moreno, lindo, excelso, a fazer-me recordar constantemente os sussurros e gemidos das minhas namoradas em O x ford, mantem-se.
O x ford, foi o meu primeiro carro, um ford escort todo tunnig, encarnado, com um big "x" pintado no tejadilho a branco e um banco traseiro muito espaçoso.
Oh Yeah!!!!!

domingo, 20 de julho de 2008

As férias acabaram (para já)

É verdade. Acabaram hoje. Amanhã, retomo a labuta diária e consequentemente os horários e os rituais pré-programados.
Este ano decidi gozar os dias de férias de uma assentada, sem contudo programar préviamente o que ira fazer durante todo o tempo.
Comecei por tentar dormir mais um pouco para além da hora habitual de me levantar, foi contudo um esforço que não resultou, ao segundo dia desisti deste intento. Depois pensei se iria uns dias à praia, não, ha outras coisas melhores para fazer do que esticar o corpinho ao sol, suar as estopinhas e dar mergulhos forçados, para tentar enganar o calor que sobrevem imediatamente a sair-se do molho, isto sem contar com as filas de trânsito e as dificuldades para estacionar.
Ao quarto dia, decidi como já fiz em outras ocasiões, zarpar sem rumo definido, ou seja, sempre para norte. É deste modo, meus amigos, que ainda consigo encontrar e saborear o verdadeiro sentido de liberdade.
Percorri as serras do parque natural do gerêz, do soajo e do lindoso, embriaguei-me de verde, de amplitude e de silêncio. Dormi em camas estranhas mas acolhedoras, em quartos de residênciais, saboreei os paladares de comidas genuínas em restaurantes de estrada, muitos deles só encontrados por indicação dos naturais do local. O único devaneio enquanto permaneci no país, foi um almoço de marisco regado por um fabuloso verde da região no "pedra alta", perto de Viana. Conheci gente, muita gente, conheci algumas das suas preocupações e necessidades, conheci a força de vontade daquela gente que nas serranias ainda tira da terra, à força de braço, o sustento que os mantem.
Depois saltei para espanha. Santiago de Compostela, visitei o santo caminhante. Decorriam festejos e uma feira medieval. Tendas de comes e bebes, artesanato, produtos naturais e, no ar, aquela sensação que não se consegue definir, resultante da permissão de partilha entre o religioso e o profano. Evidente em diferentes contextos a cultura celta que os galegos zelosamente mantêm, do mesmo modo que fazem com os monumentos.
Depois, percorri toda a orla marítima, detendo-me nas esplanadas das praias, todas elas limpas, de fácil estacionamento, e com um ambiente calmo.
Quando voltei a saltar cá para o rectângulo, fiz uma directa até à Inbícta, onde me assaltou uma buntade imensa de "comer" uma fráncezinha. E lá fui até ao kapas.
No Puorto, não vou em tangas de ficar nas residênciais, isséquera, nem pensar. Fiquei uma noite no Batalha e na noite seguinte dei o salto para Gaia. A propósito... sabíeis que na cultura ameríndia, Gaia é o nome da deusa-Mãe, ou deusa-Terra? Ah pezé...
Bom, mas andava aqui o cromo a vagabundear pelo cais de Gaia e quando olhou para os barquinhos de passeio, lembrou-se assim de repentinha... e seu embarcasse?
Entrei num barzinho para beber qualquer coisa e deparo-me com uma mocinha atrás do balcão. De resto, mais ninguem, absoluto deserto. Pergunto: vai fechar?
Com um sorriso aberto, como acho que só no nuorte se consegue encontrar, respondeu-me. - Ainda nãoe, só de madrugada.
Sentei-me, pedi uma bebida e tagarelei com a simpatia da moça.
Até que me voltei a lembrar do passeio de barco e tirei com a mocinha, nabos da púcara. Explicou-me tudo. Que havia vários itinerários, barcos maiores e mais pequenos, passeios mais curtos e mais longos, mas que na opinõe dela, qualquer um valia a pena.
-A sua descrição conquistou-me, devia ter-me lembrado de fazer uma reserva.
-Talvez não seja preciso, esteja aqui no cais amanhã pelas 8horas e fale com a senhora da agência que vai lá estar, se não tiverem os lugares esgotados, pode embarcar e fazer o passeio.
E assim foi, no dia seguinte lá estava o "je" a fazer olhinhos à menina, convencido que iria ter de empregar a técnica do charme para conseguir o lugarzinho, a verdade porem é que a lotação estava pelo metade e sobravam muitos lugares. O barcucho era o "Douro Azul". Na cave, encontravam-se as instalações sanitárias, no rés do chão (ou seria da água?) o salão de refeições, para onde me convidaram a entrar de imediato e a tomar um petit dejeuner, que... foi mesmo muito petit. Adiante... No primeiro andar, encontrava-se o terraço, onde actuava a banda que acompanha o programa televisivo do Gôxa, o Praça da Alegria e de onde, durante todo o passeio, se admira a extraordinária paisagem das margens do Douro. Tocavam o tema velhinho da série "Barco do Amor". Fui até ao Peso da Régua e voltei ao Puorto, estaçõe de São Bento, de cumboio. Foi giro!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Um castelo em claras

Ora bem... como a minha amiga Minucha me pede mais e a minha amiga Fausta me pede que arrebite, vou tentar satisfazer-lhes as vontades!?

Construí um castelo com claras
Claras, não. Brancas, eram brancas
Brancas pedras que arranquei
Com estas mãos da terra escavada
Ergui-o pedra-a-pedra com amor
Todo o trabalho foi feito com amor
Coloquei-lhe varandas e janelas de sacada
Voltei este castelo para sul, para o mar
Para ver chegar as aves na primavera
Nascia o sol com que despertáva à minha esquerda
Poisava no horizonte ao fim do dia, na direita
E perdia-se-me o olhar nesse horizonte
Renovava-se uma esperança a nascente
Adiava-se um futuro a poente
O presente indefinível permanecia nesse castelo
Todo construído de claras... claras não! Brancas!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

E S'Eu Fosse Um Pássaro?

Ah se eu fosse aquele pássaro além
Dono dos céus, senhor das brisas
Se o meu canto, encantasse alguem
Atravessando mágico, essas brumas lisas

Ah se o meu canto fosse ouvido
Se te tocasse o coração solitário
E se, como asa, batendo sem sentido
Encontrando-te, me acalmasse o desvario

Ah se eu fosse aquele pássaro além
Aquele que esvoaça de ramo em ramo
Buscando uns braços que o embalem
Como eu busco os lábios de quem amo

Ah se a brisa me levasse para longe
Se vendavais arrancassem estas penas
Se me transformasse numa ave-monge
Deixaria de dormir pelas empenas

terça-feira, 3 de junho de 2008

Adeus meu amor!!

Rasgo a pele, querendo arrancar as marcas profundas que em mim deixaste.

Mas persiste em mim o teu perfume, não me sai dos lábios o doce dos teus beijos.

Não morre no meu peito, no meu ventre, no meu sexo, o desejo de ti.

Não se apaga a memória do som dos teus gemidos.

Ecoam ainda vibrantes nesta casa as palavras com que te despediste.

Adeus meu amor!!

domingo, 18 de maio de 2008

Naturalmente!!??

Salvador Dali, disse um dia: Entre a Natureza e mim está em curso uma grande batalha, porque eu tenho de melhorar a Natureza. Eu diria que o objectivo de controlar e "melhorar" a Natureza, tem sido a "pedra filosofal" da maioria dos cientistas. Todos aqueles que até aos nossos dias desenvolveram fórmulas que conduziram à descoberta processos tecnológicos, visaram com isso tornar a vida humana mais prática, mais veloz, mais confortável, em suma, num processo natural, tentaram modificar a Natureza no seu rumo original.
Pensemos: Se acontecesse um súbito cataclísmo universal, manter-se-íam para além dele esses conhecimentos e essas descobertas, ou seria novamente a lei da Natureza a comandar os destinos do Homem?
;))

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Tempo!

Hoje, apetece-me filosofar um pouco...
O Tempo!
De entre tudo aquilo que consideramos natural, o tempo é inegávelmente, aquilo que, sendo abstracto, compõe, condiciona, ou regula, todos os momentos da nossa vida.
Momentos!
Espaços, mais ou menos curtos, que por indefiníveis razões, ou motivos, dividem o tempo e tornam-no memorável.
O tempo é atribuído de modo igual, mas, partilhado de maneiras diferentes e aproveitado, usado, ou gasto de infinitas formas, mesmo que, de forma nenhuma.
O tempo!
Alquímia da existência, sequência de hiatos, preenchidos pela presença dos sentidos.
Reformulemos então a expressão "Penso, logo... existo" digamos que... Se recordo o tempo, então...conheço os momentos, assim sendo, a nova expressão passa a ser: " Conheço, logo... sou tempo"
;)))))

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Mar De Novo - De Novo O Mar!

Pousam-me os olhos, sobre
Esse mar sereno
Enche-se o mundo, pobre
De desejo pleno

Completa-se o sonho, quieto
Nesse horizonte eterno
Astro pungente, amuleto
Planeta etereo, corpo morno

Pousam-me os olhos sobre esse mar
Exalta-se em mim o desejo
A vontade imensa de te amar
De afogar todo este amor num só beijo

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Oh Mar ! (a pedido da Slim)

Oh Mar!...
Tu que conheces o encanto e o pranto,
que cobres tanta terra como um manto.
Que imenso, tocas o céu , no horizonte,
Diz-me mar... onde fica a tua fonte?
És tu oh mar!...
Onde os homens se agigantam e se perdem
Onde se encontram, ou se ajoelham
Senhores dos sonhos e das brumas
Ligando os mundos como estradas

Diz-me mar...
É do homem que te vem essa força com que o esmagas?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Shinning On !!!

Numa tarde tão brilhante como hoje,
Confinado a um espaço desta esfera
voam horas, desse tempo que me foge
Suspensão frágil, longa, de uma espera

Sentindo o mundo girar em meu redor
O sabor velho das memórias, das paixões
Recordo o dia, o momento, o ardor
Em que selámos e jurámos ilusões

Revejo os caminhos e atalhos percorridos
Lembro sorrindo, o sabor doce desta vida
Mantem-se ainda nos teus olhos um brilho lindo
Que me encoraja a buscar na paragem, uma partida

domingo, 20 de abril de 2008

Ora favas... grãos...favas... grãos...

Este ano, os sacanas dos coelhos roeram-me as favas todas e, se digo todas, acreditem que não exagero. Todas as vagens têm um grão roído, aquele que está voltado para baixo. Porem, não esta tudo perdido, é! Como devem saber, cada vagem, produz em media, 4 grãos, ou 4 favas se preferirem, o que matemáticamente se traduz do seguinte modo: 4x25 = 100, quer dizer então que às 25 vagens correspondem 100 grãos, ou favas, como desejarem. Ora, se a coelhada "mamou" um grão em cada vagem, quer dizer que às 25 vagens, ficam a faltar 25 grãos, ou seja, em 100 grãos que deveriam produzir as 25 vagens, faltam 25 favas, ou grãos, o que nos leva a avaliar o prejuízo da colheita em 25%. Estas contas estariam certíssimas se um outro factor não fosse tomado em linha de conta. O factor de que falo, tem a ver com a sustentação e equilíbrio das espécies. Antes de eu decidir morar no campo, já existiam coelhos e, desconfio muito que, depois de eu passar a "morar" sob o campo, irão continuar a existir coelhos, uma vez que os danados, se alimentam tambem das favinhas que eu semeio, devo concluir que: para que este equilíbrio perdure, é necessário que faça sempre conta com os coelhos, quando semeio as favinhas. Dirme-ão... ouve lá, óh chouriço... e porque é que não montas umas armadilhas e apanhas uns coelhos?
A verdade, meus queridos e queridas, é que eu prefiro vê-los aos pulinhos em frente à minha janela, enquanto tomo o meu pequeno almoço refastelado à mesa da cozinha. São giríssimos, dão umas corridas completamente alienadas, param, levantam as patitas da frente e coçam-se, olham para todos os lados com as orelhitas espetadas, roem uma erva, ou uma fava, ou uma folha de cove, voltam a dar outra corrida, desaparecem, voltam a aparecer, é uma brincadeira pegada.
Portanto, é razoável que lhes pague estes números acrobáticos, semeando umas favitas a contar com eles... é justo!!!
;))))

terça-feira, 1 de abril de 2008

Hoje estou muito feliz!

Hoje sinto que a felicidade invadiu todo o meu ser.
Hoje, vi-te as cuecas. Brancas, salpicadas de minúsculas flores encarnadas, finas rendas brancas debruavam as costuras sobre os elásticos que as mantêm justas às pernas e à cintura.
Eu subia, tu descias a escada do lar, apesar de lento e agarrado à bengala que me ajuda amanter o equilíbrio, consegui notar a tua apróximação e levantei o olhar na tua direcção.
Foi fugaz a visão das tuas cuecas, o teu passo sempre apressado não permitiu que as admirasse com o vagar que desejava.
Juro, não vi mais que as tuas cuecas, juro. Não posso dizer se as tuas pernas, que imagino divinalmente torneadas, quentes, lá estavam também. Não posso jurar se levavas posta a bata da farda que já confirmei noutras alturas, gostas de usar semi-desabotoada e que perante o meu olhar te faz parecer menina da escola.
Ha uma diferença muito grande de idades entre nós, mas a verdade é que, ou a tua juventude, ou a minha velhice, fazem-me desejar-te com muito ardor.
Recordas-me os anos de vigor e de conquistas já passados ha muito, ver-te faz-me imaginar ainda capaz de satisfazer uma mulher como tu, mas calo-me, não te faço saber o que penso e o que sinto, a sociedade recriminaria o meu acto se o fizesse e decerto seria expulso deste lar.
Hoje estou muito feliz!
Hoje, vi-te as cuecas. Brancas, salpicadas de minúsculas flores encarnadas!!!

Pelo Espaço

Um cósmico vibrar, uma cósmica voz
tocam-me os sentidos, as emoções
Sons, melodias trazidos pelo vento veloz
envolvem-me em mágicos voos, atracções

Ganho asas, ganho distâncias e espaços
Alturas desmedidas no universo
Para te ter rendida nos meus braços
Enquanto risco pelos céus este meu verso

E por fim me entregar em teus abraços
Me perder, encontrar-me nos teus beijos
Sentir-me preso no teu corpo, em enlaços
Sentir que se saciaram nossos desejos

segunda-feira, 31 de março de 2008

Faz-me... Faz-te

Faz-me sorrir, a luz que reflete o teu rosto, faz-me sentir feliz.
Faz-me amar, a melodia das tuas palavras, faz-me entender o mundo.
Faz-me sentir aconchegado, o calor do teu corpo, faz-me voar desvairado.
Faz-me sonhar, a doçura do teu beijo, faz-me querer-te mais.
Faz-me sentir humano, a amplitude do teu gesto, faz-me saber a imensidão.
Faz-te presente, a distância, faz-me conhecer a solidão.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Todas & Todos

Todas as palavras que não foram decididas, estão ainda prontas para ser inventadas.
A todos os gestos e os olhares que viajam, foi-lhes aberta no espaço, uma rota de chegada.
A todos os anseios e suspiros já expirados, dar-lhes-hão novos prazos validados.
A todas as marcas e sinais no chão gravados, acederá novo homem, por saber.
Todas as coisas girararão perpetuadas nas suas existências.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Coisas & Loisas

http://www.youtube.com/watch?v=ziThYl6B2vw

Hoje, aqui sentado sobre esta pedra, reflicto e questiono;
O que é verdadeiramente importante?
Ha algo que seja verdadeiramente importante?
E se não atribuir importância a alguma coisa? Essa coisa, perde a importância?
Então... a importância das coisas está dependente do meu critério de as valorizar?
Provavelmente, só as coisas que me estão atribuidas, aquelas que eu possuo.
Eu possuo coisas?
Porque as posso destruir, ou porque as criei?
Se as criei, como as criei?
A partir de coisas já criadas, de matérias que já existiam?
Então... a minha acção, a minha criação, consistiu em juntá-las... criando algo a partir daquilo que já estava criado, por isso, aquilo que criei, passa a ser importante, porque criei essa coisa.
Oh, que coisa...

Montes & Montes, Ldª.

(Atenção ao volume do som)

http://www.youtube.com/watch?v=6UztEfwHt14&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=_swFHp-0_sY&feature=related


Para lá desses montes, existes tu,
sempre tão ausente e distante.
Para cá, ficam-me os sonhos,
os desejos de te ter.
Para lá desses montes,
deita-se o sol.
Beijando o teu corpo,
tão dourado.
Para cá, reside a insónia,
a espera pelo instante desejado.

Eu!

http://www.youtube.com/watch?v=lRcQZ2tnWeg&feature=related

Não!
Não queiram comparar-me com outros que já viram
Não queiram colocar-me num caminho que não é meu
Não esperem que me sinta igual a alguém
Tão pouco que de alguem seja modelo.
Não!
Não busco a diferença
Não busco sequer ser o exemplo
Não objectivo nem desejo uma conquista
Não sonho ideais que completem o meu ser
Não!
O meu destino é ser somente Eu!
Contra ventos e marés, serei só Eu!
Quer me empurrem, ou me travem, serei Eu!
Nada mais do que Eu, estará onde Eu estiver!
Nada mais do que Eu será, serei Eu!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Life Is a Big Ilusion!!

http://www.youtube.com/watch?v=-1auRCameVY
Bom... life is an'ilusion!!!
Ou... uma utupia, ou... uma metáfora!
E... porque tudo é feito de ilusões e de equívocos dos sentidos, é que todos avançamos por esta trilha ilusória, convencidos da nossa auto-determinação e, assim, convencendo os outros, da sua.
A primeira coisa de que nos convenceram, assim que nascemos, foi de que sabiamos alimentar-nos. Puro engano, alguns d nós, morrem mais rápidamente por erros sucessívos de alimentação.
Depois, convenceram-nos que sabiamos falar. Outro engano, mesmo depois de muitos anos de prática deste exercício, somos confrontados com a necessidade de transmitir um pensamento, uma ideia, um sentimento, um desejo e não somos capazes de encontrar as palavras necessárias para o fazer, ou sequer de construírmos a frase que os consiga expressar.
Em seguida, convenceram-nos de que sabiamos andar. Pura ilusão! Passamos um tempão a tentar ganhar equilíbrio, depois a ensaiar os primeiros passos, depois as primeiras corridas, depois as primeiras caminhadas e, quando estamos convencidos de que já dominamos completamente a técnia... enfraquecem-se-nos as pernas... começamos a tropeçar, depois... a cair e por fim... tombamos de vez!
A vida é uma ilusão!!!

terça-feira, 25 de março de 2008

E & C

Hoje vou falar sobre equídeos!
Uiii, consigo ouvir as vossas mentes a pensar "de certezinha que o gajo vai escrever sobre sexo".
... não vou escrever sobre sexo, mas para que não se sintam defraudados, pontualmente e discretamente insinuarei uns pequenos apontamentos com carácter sexual.
Afinal se cá estamos hoje é porque pelo menos um homem e uma mulher, dedicaram algum tempo das suas vidas numa actividade que culmina em orgasmo, que por sua vez apelidamos de sexo... ok, ok, ha também quem perfira chamar-lhe amor, ou então, "fazer amor".
Bahhh, como se alguem pudesse fazer algo que não é mais que um sentimento... a velha mania de chamar coisas diferentes às coisas, só para que uns pensem coisas diferentes daquelas coisas que afinal, são as coisas que se pretende dizer.
Bom, mas eu disse que não ia falar especialmente de sexo, mas sim de cavalos e éguas. É verdade!
Sempre senti uma especial atracção por cavalos ... lá estão vocês... não tem nada a ver com sexo, caramba, tirem o sexo da cabeça e concentrem-se somente naquilo que estou a querer transmitir. ok?
Bom, então vamos lá.
Quando ainda vivia na cidade, alimentava o desejo de um dia ir viver para o campo e de possuir um cavalo e uma égua e, consequentemente os descendentes que conseguissem "produzir".
Como o início deste desejo demorou a concretizar-se, um dia decidi ter aulas de equitação e comecei a frequentar uma escola de equitação.
Porreiro, foi fixe, conheci bué piple, a maioria a atirar pro snob, bué "tias e tios" que davam muitíssimo mais importância à etiqueta que identificava a marca da bota, ou da calça, ou do colete, que propriamente aos ensinamentos do equitador, mas cada um é como é e agente finge que num topa népias e, cada um segue com a sua vidinha.
Quando iniciei as minhas lides equestres, fui atribuído a um equitador, o Zé, tipo interessantíssimo, que passo a descrever.
Baixo, pernas arqueadas, oculos fundo de garrafa, meio careca, speedado/desorientado, sempre a rir e sempre engatatão. O facto é que, ou por ser tão descontraído e natural, ou porque desempenhava também o papel de administrador e relações-públicas da escola, o mulherio até lhe dava alguma atenção.
Ao segundo dia de aulas, eu e o Zé, já nos tratávamos por tu e, como descobrimos o gosto mutuo por wisky, acabámos o dia no barzinho da escola a beber 2 ou 3.
Estes finais de dia, repetiram-se e repetia-se também o tema de conversa do Zé.
-Sabes Bartolomeu? Eu faço vir as gajas quando andam no volteio!
Este gajo é tolo, pensei com os meus botões.
Como não dei continuação à conversa, o meu amigo Zé, voltou à carga.
- Já são muitos anos, já as topo muito bem, quando elas começam a ficar vermelhas, meto o cavalo a trote e elas vêem-se num instante.
Ai o caráças, ouve lá òh Zé, pensas que sou tótó?
-Não acreditas? Quando for dar volteio, chamo-te para veres.
-Foda-se óh Zé, chamas-me para quê?
- Para veres a gaja a vir-se à valentona em cima do cavalo, algumas quase desmaiam.
-Vai-te pó ... deve ser, deve.
-Vais ver, prá próxima eu chamo-te.
-Oh Zé, ainda não percebeste? eu não estou interessado em ir-me especar no picadeiro, à espera que uma gaja que anda no volteio, se venha. Não me estás a ver, pois não?
- O meu amigo Zé mudou de assunto e eu acompanhei, mas, mais volta menos volta, lá ia o gajo cair no assunto das clientes da escola, que eram boas como o milho e, que aquela era cheia de papel e a outra que era divorciada e ia lá com a filha e porque aquela matulona é que era boa para ti, até que tive de me impôr com o Zé.
- Oh Zé desculpa lá, mas assim não dá meu, estou-me a cagar para a vida particular das clientes e das mamãs das meninas, pá. Ouve uma coisa Zé, eu não tenho interesse nenhum pela vida particular das pessoas, topas?
Como o Zé exibiu um ar de espanto, decidi sossegá-lo.
Ouve man, por aquilo que percebo, não gosto menos de mulheres que tu, só que, não me interessa andar a espiar as vidas delas, tal como não me interessa que espiem a minha, ok?
- Acho que o zé não percebeu patavina, o mundo dele, girava num eixo diferente do meu, apesar de se tocarem em alguns pontos.
Confesso que, deixei de me relacionar tão intimamente com o Zé, sem deixar no entanto de conversar e de por vezes beber um copo.
Um final de tarde chuvoso, estáva a montar no picadeiro, e o amigo ´Zé numa das cabeceiras a dar aula de volteio a uma jovem senhora, possívelmente, na casa dos trinta, quando num trote curto me aproximei do local onde eles estavam, o Zé fez-me sinal para parar. Quando se está no picadeiro, as ordens dadas pelo equitador, são para se cumprir, assim fiz. Parei e fiquei a aguardar indicações. Eis senão quando o amigo zé dá voz de trote ao cavalo do volteio e reparo no ar afogueado da senhora, foi um instante, enquanto a jovem amazona, inclinou a cabeça para trás, colocou o olhar no vazio e lentamente, deixou-se escorregar de lado até ao chão.
Imediatamente saltei da sela e dirigi-me à senhora ainda meio atordoada e ofegante, ajudei-a a levantar, mas estou certo que ela nem sequer me viu. Ajudei-a a chegar às bancadas e a sentar, perguntei-lhe se queria um copo de água, ou outra coisa. Respondeu-me que estava bem, que não precisava de nada. Nesse momento ouvi a voz do Zé Manuel chamar-me para montar o meu cavalo que já tinha aproveitado a liberdade para passear pelo picadeiro.
Quando olhei para o Zé Manuel, pude compreender que exibia um enorme ar de satisfação por ter conseguido provar-me que conseguia fazer uma mulher atingir o orgasmo em cima do cavalo.
Mas... afinal, prometi que ia falar de éguas e cavalos...
Bom, amanhã volto ao assunto dos equídeos.
Está prometido!!

domingo, 23 de março de 2008

Lá & Cá

Pois é... estive no Brasil, não ontem, nem ante-ontem, já passaram 15 dias.
Estive na antiga capital, Rio de Janeiro, estive hospedado no Copacabana Palace, na Av. Atlântica, a um passo do "calçadão" e a dois da praia.
Poucos locais onde já estive me provocaram a sensação de desagrado, porem o Rio, para além de desagrado, fez-me sentir logo de início o desejo quase incontível de me vir imediatamente embora.
No percurso do aeroporto para a cidade, avistam-se múltiplos aspectos de degradação, de desarrumação de completa pobreza e sujidade. O povo apesar de demonstrar afabilidade, é de uma indolência exasperante. Devo confessar, percorri diferentes artérias da cidade, a pé, com o relógio no pulso, por vezes atendendo o telemóvel e absolutamente sózinho. Duas coisas aconteceram: nem fui assaltado, tão pouco me apercebi de algum movimento nesse sentido e não fui abordado por uma carioca, desejando transar. Estas duas constatações, confirmam as minhas suspeitas... sou tão feio, mas tão feio, que nem os ladrões se arriscam, tão pouco as brasileiras.
Mas, minhas amigas e meus amigos, aquilo que mais me impressionou verificar naquele povo, foi a ausência de objectivos. Ao 2º dia de estadia, já fartíssimo de toda aquela indolência, enquanto me deslocava em visita ao "Corcovado", perguntei ao motorista do carro, o que faziam sentados em cadeiras, nos passeios, uns indivíduos que já tinha observado com frequência e que não me parecia que estivessem a vender alguma coisa. O motorista respondeu-me "não estão fazendo nada". Não? Mas eu já vi vários por aí, sentados em cadeiras isoladas, mas, são tantos assim, sem fazer nada?
Perante a minha admiração o motorista, sempre pausadamente reafirmou "é! esses cara tão só por aí" e argumentou "sabe o que é? brasileiro tem um lema de vida". Acredito que tenha, mas fico curioso, qual é esse lema? "relaxa e aproveita", responde-me o "cara" solicito.
Assim sendo, está tudo dito e, eu é que estou desenquadrado no meio de toda aquela bagunça.
E pronto, basei, não sem antes uma rapariga muito simpática me dedicar este tema;
http://www.youtube.com/watch?v=RzehD1VyuWE&feature=related
Elba Ramalho, chama-se ela... beijinho Elba, já cá estou... no meu aconchego!!!
;)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Olá meus queridos amigos!!!!!!

Olá meus queridos amigos!!!!!!
Este é um post que não é um post, na medida em que pretende unicamente ser notícia de mim.
;))))
A vossa simpatia e amizade não tem obtido da minha parte a atenção devida e a devida correspondência.
Porém, preciso que saibam, que se mantêem no meu pensamento e, que não tenho escrito nem comentado, sobretudo porque das minhas ocupações profissionais não me tem restado tempo.
Até meio do próximo mês, vou continuar nesta azáfama, depois e, sobretudo depois de arrumar as ideias e de me voltar a poder concentrar, voltarei ao vosso convívio.
Até lá, recebam de mim beijos imensos, tanto os machos como as fêmias.
Não, não virei bicha... hãn?
Eu explico...
Esive recentemente num país do médio oriente e assisti a ao costume daquelas gentes (homens), que se beijam quando se encontram, tal como nós, apertamos o bacalhau.
Ora, nessa altura o vosso amigo Bartolomeu, cogitou consigo mesmo... espera lá... se estes marmajos que dão o corpinho ao manifesto no sofisma do paraíso, onde os aguardam 1000 virgens (todas fêmias) e se cumprimentam de beijinho... então é porque não são menos machos que eu e o meu vizinho Carvalho que até se baba quando vamos na rua e passa por nós uma fêvera a quem ele dispara de imediato... "até te chupava as unhinhas dos pés".
Portanto minhas e meus amigos, a partir de agora estão abulidos os preconceitos, iniciei uma campanha pelo beijo... indiscriminadamente.
lololololollolol
Beijões para todos!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Bartô & Amélie

Amélia... Amélia...!
Ainda um pouco ofegante, cheguei perto de Amélia que se mantinha estática de frente para o mar e para aquele luar imenso que tornava a sua silhueta mais brilhante e enigmática.
-Consegues imaginar onde nos encontramos, Bartolomeu?
Com o olhar perdido no infinito, Amélia lançou-me esta interrogação.
- Cabo da Roca, suponho, estarei enganado?
- No tempo em que nos encontramos, ainda não ganhou esse nome, virá a chamar-se assim, daqui a alguns séculos...
-Séculos?... mas então, em que época nos encontramos?... ou seja, em que ano estamos? que data é hoje?
- Hoje não tem data Bartolomeu, hoje não existe ainda, encontramo-nos antes do início dos tempos de que tu tens conhecimento.
- Ah pronto, assim já nos começamos a entender! O que me estás a dizer concretamente, é que morri, e estou algures, esperando uma passagem para outro algures, é isso?
- Não sejas palerma Bartolomeu! O facto de até aqui teres aprendido a reger a tua vida por um calendário repleto de datas e de acontecimentos situados ereméticamente nessas datas, não é de modo nenhum a confirmação de que outro tempo não exista, inclusivamente, paralelamente ao outro.
-Ah sim, a tal questão de Einstein, da relatividade e do paralelismo, ok! Então diz-me lá uma coizinha só, Amélinha do meu coração... qual dos dois tempos é que existe na verdade?
- Não gozes Bartolomeu, ambos os tempos existem paralelamente, a questão é que, não consegues ter consciência de ambos em simultâneo, entendes? Aliás, esse senhor que referiste, ensinou-te isso, quando te enunciou as teorias da quântica.
-Xacáver Amélia, queres dizer então que neste momento, me encontro preso num determinado hiato de tempo, apesar de o tempo que serve de referência à minha existência consciente estar a decorrer em simultâneo, é isso?
-Hmmm, não se trata propriamente de um hiato, mas para que possas perceber melhor, digamos que sim.
-Ah, muito bem, e é a ti que fico a dever tamanho prodígio?
-Vê se entendes de uma vez Bartolomeu, nada daquilo que estás a viver se fica a dever à minha vontade, mas sim e somente à tua. Quando formulaste o teu desejo na noite de ano novo.
-Sabes querida Amélia? Já estou fartérrimo de formular desejos, tanto em ocasiões vulgares, como em especiais e somente esta se foi concretizar, isto é que eu chamo de sorte hein...
-Pois meu querido, mas como te disse, nesta questão, sirvo somente de intermediária num processo.
-E... quando é que toda esta história irá terminar?
Amélia fingiu que não escutou a minha pergunta e, após alguns momentos, voltou-se na minha direcção e, exibindo novamente o seu sorriso encantador, perguntou-me...
-Conheces a lenda que está ligada ao Cabo da Roca, Bartolomeu?
-Lenda? Nem sabia que neste tempo em que estamos, já tinham inventado as lendas.
-Deixa de gozar Bartolomeu e, se aceitas um conselho, aproveita esta experiência extraordinária que muitíssimo poucos mortais tiveram ainda oportunidade de viver.
-Ok Amélia, venha então de lá essa tal lenda.
Amélia aproximou-se e depositou nos meus lábios um beijo apaziguador, iniciando a narrativa da lenda.
- Esta lenda irá ocorrer num tempo posterior àquele em que nos encontramos, mas muito anterior àquele de onde vieste. Irá passar-se neste preciso lugar e, passar-se-ha do seguinte modo... num pequeno lugar próximo deste, irão morar um menino de 5 anos e sua mãe. Certo dia a criança desaparecerá e a sua mãe procurá-lo-a em vão por todos os cantos da aldeia. Uns dias após o seu desaparecimento, uns pastores que irão passar por este local, ouvirão, vindo de um fundo buraco na rocha, o choro de uma criança. Alarmados, irão ver e perceberão tratar-se da criança desaparecida. Correrão imediatamente até ao lugar e avisarão a mãe desesperada e os restantes habitantes. Imediatamente correrão todos ao local e, conseguirão retirar o menino do buraco. Abraçada ao seu filho, soluçando de alegria, a mãe desesperada, ouvi-lo-à relatar o acontecido. Umas mulheres, haviam-no levado pelos ares e deitado naquele buraco. Porém logo depois, aprecera uma senhora muito linda e luminosa que o tinha acalmado e todos os dias lhe levava uma sopinha de rosas, com que se tinha mantido todo aquele tempo. Perante tanta alegria e contentamento, decidirão, mãe e aldeãos, seguir em romaria como forma de agradecimento à capelinha de Nossa Senhora. Logo que entrarem no templo e o menino vir a imagem de Nossa Senhora, exclamará... Mãe, foi aquela a Senhora que todos os dias me levou a sopinha!!!
Vês Bartolomeu, como é possível que dois tempos diferentes coexistam?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

À Atenção de Lady Papoila

Á minha frente, banhada pela refulgente luz da lua, Amélia mantinha-se inalcançável. Sempre que incitava o meu cavalo a galopar mais rápido, na tentativa de alcançar a égua de Amélia, ela tambem aumentava a velocidade, mantendo inalterável a distância que nos separava.
Cerca de meia hora depois de termos iniciado a suave cavalgada, que em alguns momentos atingíu velocidades vertiginosas, percebi, vindo do lado esquerdo do caminho, o rumor do mar e o ruído de ondas rebentando. Percebi que não nos encontraríamos distantes da orla marítima, segundo o meu sentido de orientação só poderia tratar-se do mar do Guincho.
Tentei de novo alcançar Amélia, sem sucesso. Pretendia certificar-me do local por onde passávamos. Poucas centenas de metros mais à frente, deparei-me finalmente com a imensidão do mar, enquanto à minha frente se estendia o vulto magestoso daquela que não poderia deixar de ser a Serra de Sintra.
Porém, algo extraordinário acontecia. À distância a que nos encontrávamos do mar, deveríamos estar sobre a estrada que liga Cascais ao Guincho e depois à Malveira, mas não, não se distinguia, próximo ou distante qualquer sinal da mesma.
Decidi então chamar por Amélia, na tentativa de que abrandasse o galope e me premitisse apróximar. Apesar da noite serena, sem vento e do silência absoluto que reinava no local, só ligeiramente alterado pelo contacto dos cascos de ambos os cavalos com a areia do caminho, Amélia não deu sinais de me ouvir.
Insisti, uma e outra vez, cheguei a gritar o nome da Amélia sem conseguir obter dela qualquer sinal de me escutar, mantendo o mesmo rítmo de galope, continuando na direcção que tomara no início do galope.
Mais meia hora volvida e, começámos a subir a vertente da serra que descai para o mar. Até aquele momento e durante todo o percurso, para alem da ausência de estrada, notei ainda a completa ausência de qualquer tipo de construcção ou, e de iluminação. Nem habitações, nem os conhecidos restaurantes que se estendem ao longo da estrada do Guincho, tão pouco as esporádicas moradias no meio da mata, nada se conseguia distinguir. A surpreza ganhou maior dimensão, quando ao passarmos no local onde deveríamos encontrar a povoação da Malveira, nada se via que me deixasse suspeitar da existência de qualquer ser humano. Continuámos Serra acima sem que as nossas montadas demonstrassem qualquer sinal de cançasso e, cerca de uma hora depois, subindo sempre pela encosta, atingimos um ponto que identifiquei como sendo o Cabo da Roca. Foi aí que Amélia deteve a sua montada, fazendo com que a sua égua levantasse as mãos, apoiando-se somente nas patas trazeiras, enquanto soltava um longo relincho, que ecoou pelo vasto espaço descampado, como brado de fera mitológica como que tentando desafiar as forças ocultas da natureza.
Amélia apeou-se e, deixando a sua égua em plena liberdade, dirigiu-se para a orla que dava para o abismo rochoso, sobre o mar que lá no fundo bramia e se desfazia em alva espuma contra os rochedos.
Apeei-me tambem e aproximei-me de Amélia.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Ora intão bamos lá dar uma... galopada!!!

Senti de novo o poder da presença de Amélia e a majestosidade da sua figura, senti que ambos exerciam domínio sobre a minha vontade. Consegui dominar durante alguns momentos o impulso quase irresistível de me aproximar de si, de a beijar e de lhe dizer que sim, que queria ficar para sempre junto dela. Durante o tempo que aguardei silenciosamente, admirei Amélia. Envergava um fato de amazona, em veludo negro, debroado a cetim negro tambem. A saia-calça era comprida, de cintura subida, a jaqueta, curta e justa, abtoava com dois botões de prata, presa no lado esquerdo da jaqueta, cintilava uma discreta rosa constituída por pequenos diamantes.
O conjunto, conferia à sua figura uma elegância suprema e uma sensualidade que tornavam Amélia ainda mais irresistível.
Resolutamente, aproximei-me de Amélia e segurando-lhe na mão, declarei. - Estou ansioso por esse passeio na tua companhia.
Dirigimo-nos de mãos-dadas para o vestíbulo de entrada onde Jarbas nos aguardava segurando uma capa em veludo brick que colocou sobre os ombros de Amélia.
Saímos a porta do palacete e no largo onde dias antes havia estacionado o meu carro, encontrava-se um jovem que não conhecia ainda. Este jovem, segurava pela redea, numa das mãos, um bem composto cavalo branco de raça lusitana, enorme, calmo, majestoso, na outra mão, uma fugosa e inquieta égua branca tambem, ambos de longas crinas e de pelo reluzente.
Era de noite, de Este, elevava-se nos céus uma lua enorme, que projectava sobre nós toda a magia da sua luz prateada. Amélia dirigiu-se para a égua, enquanto saudava o moço que segurava os dois animais, apresentando-me e apresentando-o, o seu nome é Miguel, nasceu na propriedade e é ele que trata dos nossos cavalos. Segui Amélia e ajudei-a a montar. Logo que Amélia se instalou na sela, a égua instantâneamente, ficou parada e colocando a cabeça primorosamente, aguardou serenamente que Amélia lhe desse sinal para iniciar a marcha.
Em seguida dirigi-me ao outro animal e, colocando o pé no estribo impulsionei-me para sobre ele.
Amélia deu então ordem de marcha à sua égua e entrámos a passo por uma vereda que contornava o palacete pelo lado Oeste. Em seguida, atingimos uma zona arenosa de pinhal e então Amélia deu ordem de trote à sua égua e um pouco mais`adiante, de galope. Bastou que encostasse os calcanhares das botas à barriga do meu cavalo, para que imediatamente ele entrasse também num galope suave, mas pujante e harmonioso, segui Amélia que corria sem parecer importar-se se a seguia.

Bartolomeu, já te lixaste

Depois de colocar a indumentária que tinha sido escolhida para mim, olhei-me no enorme espelho colocado ao canto do quarto, do lado da janela.
Aquelas roupas davam-me um certo ar cómico, nunca me tinha visto enfiado dentro de semelhante trajo. Olhei para Jarbas, que se mantinha espectante a um lado e perguntei-lhe - Qual é a tua opinião Jarbas, parece-te que com este fato vou impressionar o cavalo?
Parece-me muitíssimo bem excelência, respondeu-me Jarbas.
Coloquei-me em frente ao mordomo, cruzei os braços, olhei-o de frente e com um tom de voz decidido disse-lhe: Ouve uma coisa Jarbas, vamos acabar de vez com toda esta palhaçada a que não estou a achar a mínima graça. Dizes-me se faz favor onde estou, quem são estas pessoas, o que estou aqui a fazer e... por favor, para com essa treta de me tratares por excelência. Ok?
Mantendo o olhar fixo no meu, Jarbas respondeu - V. Exª está na residência da Excelsa Senhora Marquesa D. Amélia e é convidado de honra da Senhora Marquesa.
Foda-se Jarbas... já me estás a tirar do sério, não consegues ser mais claro e explícito?
Sem me responder, Jarbas dirigiu-se à porta do quarto, abrindo-a e anunciando - A Senhora D. Amélia aguarda Vossa Excelência na sala da biblioteca.
Eu ainda me passo caráças, ai passo, passo, já estou a perder a paciência com esta merda toda, vamos lá ter com a marquesa, que eu quero pôr isto tudo em pratos limpos.
Jarbas conduziu-me de novo por diferentes corredores, até chegarmos em frente a uma enorme porta que jarbas abriu, dando-me passagem.
Entrei de rompante, exasperado e, perante o meu olhar, deparou-se um enorme salão, cujas paredes se apresentavam integralmente cobertas por ricas estantes em madeira exótica, repletas de encadernações de aspecto antiquíssimo. No centro do salão, dois enormes cadeirões, estofados a veludo grenat, sobre uma imensa carpete persa, ao lado de cada cadeirão uma luz de leitura, na parede do fundo, uma lareira onde crepitava um ténue fogo.
De pé, ao lado de um dos cadeirões, Amélia esperava-me.
Recebeu-me com um sorriso, um sorrijo que já me era familiar e que produzia em mim efeitos encantantórios.
-Bem vindo Bartolomeu, vejo que aceitaste o meu convite para passear a cavalo, vou mostrar-te a nossa propriedade.
- Nossa? Perdão Amélia, eu nem sei onde me encontro, ou sequer com quem estou e, gostava imenso que me esclarecesses acerca disso.
Amélia apróximou-se mantendo o seu sorriso adorável e enigmático, retorquindo -Porquê essa irritação toda Bartolomeu? Não estás a ser bem recebido na nossa casa? A minha companhia não te é agradável? Ha algo que te esteja a desagradar?
-Nada disso Amélia, simplesmente encontro-me num local que desconheço, acompanhado por pessoas que tambem não conheço e acontecem coisas que ultrapassam o meu entendimento, gostava bastante que me esclarecesses de tudo isto.
Améli voltou-se e em passo lento voltou para junto do sofá onde se encontrava quando cheguei, sem se voltar, respondeu-me - Lembras-te bartolomeu da noite em que nos conhecemos?
Sim, lembro-me perfeitamente, respondi-lhe.
-Lembras-te que nessa noite formulaste mentalmente um desejo?
-Ahhhh... lembro... mas, esse desejo, como dizes, não foi mais que mental, não o mencionei a ninguem.
-Para além de mental, foi formulado Bartolomeu, o bastante para que uma entidade tenha decidido satisfazêr-to.
Ri-me, um riso nervoso que tentava afastar maus pressentimentos, dirigindo-me de novo a Amélia, tentando brincar com a situação ripostei.
- Seria muito engraçado se as coisas funcionassem desse modo Amélia, um fulano formulava um desejo e plim plim plim, tudo acontecia num passe de mágica.
Amélia fingiu ignorar a minha brincadeira e continuou.
- Lembras-te ainda que me ofereceste ajuda nessa noite e que te disponibilizaste para me transportar a casa?
- Sim também me recordo.
- E recordas-te ainda que aceitaste deliberadamente o meu convite para permanecer nesta casa.
- Bom, o convite que me fizeste nessa dia, entendi-o com carácter não definitivo e, como uma cortezia da tua parte por te ter prestado auxílio.
- Bom, na verdade Bartolomeu, foste tu que pediste auxílio, no momento em que formulaste o teu desejo.
- Lembraste ainda de quando, após nos beijármos a primeira vez e ainda antes de fazermos amor eu te declarei que irias ser meu para sempre e tu selaste esse acordo, beijando-me com toda a tua alma? Nesse momento, entregaste-te a mim incondicionalmente e para sempre!
-Irra Marquesa, eu não fiz acordo algum, tudo não passou de um momento, até concordo que me senti apaixonado, que efectivamente senti dentro de mim um impulso, uma atracção imensa por ti, mas nunca pensei em algo para sempre.
Amélia, voltou-se de novo para mim, exibindo ainda no rosto aquele seu sorriso marivilhosamente encantantório e calmamente respondeu-me.
- Vamos então dar o nosso passeio?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ano novo...

Acordou-me do doce torpor em que me achava, uma leve agitação na àgua a meu lado.
Abri os olhos e regressando à realidade do momento, vejo ao meu lado a figura quieta de Pelítia que, de olhar baixo,erguia as mãos em concha e derramava àgua do banho sobre o meu peito.
Olhei de imediato para Amélia, tentando adivinhar na sua expressão a definição que buscava para tudo o que se passava. Amélia não deixou que o seu olhar se encontrasse com o meu e fingindo-se distraída com a observação do seu rosto num pequeno espelho de poilette, mostrava-se alheada do que se passava à sua volta.
Sem me olhar, Pelítia começou então a passar levemente as suas níveas mãos sobre o meu peito, ombros, peito novamente, descendo em seguida até à cintura, enquanto curvava o tronco na minha direcção, apróximando assim o seu rosto do meu.
Amélia continuava entretida com o seu espelho, fingindo ainda não prestar atenção ao que se passava entre mim e Plítia.
Uns momentos após se deter na minha cintura, Pelítia avançou com brandura os seus dedos na direcção da minha zona pélvica, enquanto, encostando o seu rosto ao meu, apróximou a sua boca do meu pescoço.
Senti que de novo o meu membro ganhava volume e rijeza, Pelíntia, sentiu-o tambem subir e ganhar rijeza e segurou-o com mais determinação, começando a massaja-lo lenta, mas determinadamente.
Nesse momento senti uma ligeira picada no pescoço, e numa fracção de tempo recordei-me da sensação que tinha sentido anteriormente no pescoço, o que me fez afastar bruscamente de Pelítia.
Instantaneamente, Amélia soltou um grito de obediência a Pelítia que de imediato se sentou no chão da banheira, dobrando as pernas e cruzando os braços em redor do tronco, enquanto lançava um olhar de ódio à sua ama exibindo ainda dois dentes caninos proeminentes.
Disparou-me o coração num susto tremendo.
Amélia percebendo o meu estado de ansiedade e espanto, sossegou-me com um sorriso muito meigo, enquanto me dizia - Não te assustes Bartolomeu, não se passa nada de mal contigo, é que Pelítia por vezes perde um pouco a razão e esquece as minhas ordens, mas podes estar seguro, desde que estejas junto de mim, ela não se irá atrever.
Dizendo isto, Amélia levantou-se, enquanto fazia um sinal a Pelítia que se levantou também, saindo da banheira e colocando um amplo roupão em volta de Amélia.
Levantei-me também, ainda inseguro de todas aquelas estranhas atitudes.
Então Pelítia, sempre com o olhar colocado no chão apróximou-se, oferecendo-me também um roupão. Olhei Pelítia e de novo me sobressaltei, a sua túnica, tal como o seu corpo, encontravam-se completamente secos, como se nunca tivesse estado dentro de àgua. Fiquei imóvel olhando Amélia e Pelítia saindo de mão dada por uma outra porta em que ainda não tinha reparado. Enquanto caminhava, Amélia convidou-me a regressar ao meu quarto e vestir uma toilete que já me havia sido separada pelo mordomo.
Quando entrei no quarto, ainda hesitante, encontrei Jarbas prefilado a par de um cabide de pé alto, onde estava colocado um fato de montar.
Pensei comigo mesmo... esta gente está a gozar comigo, ou então estou dentro de um daqueles sonhos de onde não conseguimos saír, por mais vezes que se acorde.
Decidi dirigir-me então a Jarbas e com um sorriso provocador, indaguei - então Jarbas, hoje vai haver montaria? helooo... montaria, tás a ver?... caça ao javali... javali... porco, homem!
Sem perder a pose erecta e mantendo o seu ar fleumático de nobre inglês, Jarbas respondeu-me - A Senhora Marquesa Amélia, convida Vossa Excelência a acompanha-la num passeio a cavalo nos terrenos da propriedade.
Decidi voltar a provocar o mordomo, tentando exaspera-lo e criar uma brecha na sua atitude que me pudesse ajudar a compreender todo aquele enredo e lancei-lhe - Ena Jarbas, fartas-te de falar e nem te engasgas, andas a praticar algum tipo de exercício linguístico? hmmm? língua... exercício... coiso e tal... hmmm?
Fui brindado com a mudez fleumática de Jarbas que mantendo o olhar num infinito inexistente, fez questão de ignorar a minha pergunta jucosa.
Insisti na provocação e atirei-lhe - Olha lá Jarbas, descontrai homem, estás aí tão hirto, parece que engoliste um pau de vassora.
Nada!
Jarbas manteve-se imóvel e imperturbável...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Luz da Lua

Invade-me essa luz forte da lua.
Afaga-me esse prateado efémero
feito em mim, pele de mulher nua
excita-me, acaricia-me, etéreo.

Percorre-me as veias, os sentidos,
fere-me, reconforta-me, endoidece-me
leva-me inebriante a lugares perdidos
Tento prendê-lo em mim, mas foge-me

Magentiza-me asfixia-me, a magia desse luar
A intensidade dessa luz reflectida
Tal como me magnetizou um dia o teu olhar
Tal como me asfixiou, um dia a tua partida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Não consegues apanhar-me...

De súbito, entras-me de rompante pela janela da memória. O motivo por que o fizeste, ultrapassa toda a minha capacidade de entender, resta-me a certeza da recordação.
Atónito pela tua presença inesperada, embriago-me com o perfume que julgava ter ja esquecido e que começa a envolver-me completamente. É o teu perfume! Semi-cerro os olhos e torno mais viva a tua imagem no meu cerebro e no meu coração. Oiço o teu riso vivo de criança ladina. Oiço o teu desafio insistente para corrermos na praia. Sinto o teu beijo de convencimento e sigo-te.
E fazes como sempre fizeste quando corríamos e eu fingia que não conseguia ser mais veloz só para poder apreciar a graciosidade dos teus longos cabelos soltos ao vento e a leveza do teu corpo esbelto que parecia flanar alguns passos à minha frente. E voltavas o teu belo rosto, rindo abertamente enquanto repetias... não consegues apanhar-me... não consegues apanhar-me... não consegues apanhar-me...
Não consegui... não soube... apanhar-te... conquistar-te.
Sobraste-me em vivacidade, em desejo de infinito e de conquista.
Derrotou-me o medo de não de não acreditares no meu amor!!!

sábado, 19 de janeiro de 2008

Sem saber se existo...

Sem eu querer
Os teus seios atraíram o meu olhar
Sem eu saber
Os teus lábios quizeram-me beijar

Sem eu pedir
Nossas mãos percorreram nossos corpos
Sem eu ouvir
Pediste-me para te amar

Sem eu sentir
Inundaste-me de amor todos os poros
Sem eu mentir
Banhaste-te nos meus olhos de mar

Sem me mover
Libertaste em mim toda a paixão

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Apesar de o dia se apresentar invernoso e de me achar despido sobre a roupa de cama, a minha pele e a de Amélia que se achava deitada ao meu lado, quase queimavam.
Ainda aturdido pela velocidade vertiginosa a que os acontecimentos recentes tinham ocorrido, tentei reorganizar os pensamentos, as memórias e as imagens que se iam sucedendo no meu espírito. Tudo se apresentava incrivelmente irreal, porém, ao meu lado, naquela cama, lá estáva o corpo divinal de Amélia, mágicamente despido, como que atestando a realidade do que me parecia irreal.
Voltei-me então para Amélia que me olhava serena, suave e linda. Tive a sensação que o seu corpo flutuava, esfreguei os olhos tentando retirar o resto de turpor que pudesse fazer-me entender erradamente o que via. Amélia flutuava, talvez a um centímetro da roupa de cama, mas tinha a certeza que a pele das suas costas não a tocava. Amélia flutuava! Admirado, estendi a mão na sua direcção, tentando tocar-lhe. Nesse momento Amélia, com uma agilidade surpreendente, e antes que a tocasse, levantou-se, colocou de novo o robe e exibindo o seu sorriso mais amoroso, estendeu a mão na minha direcção, enquanto me pedia... vamos tomar um banho Bartolomeu?
Senti que algo me impulsionava, fazendo com que saltasse da cama e num ápice me encontrasse de mão dada com Amélia, que me conduziu para o quarto de banho.
Não trocámos uma palavra enquanto percorríamos o espaço que nos separava da porta, quando entrámos, deparei com a presença de uma figura feminina que ainda não havia conhecido até àquele momento.
Tratáva-se de uma jovem, aparentando 15 ou 16 anos, de aspecto frágil, tom de pele ligeiramente nacarada, olhos grandes, mas inexpressivos, cabelos loiros muito longos, seguros por uma tiara ornamentada de profusas flores minúsculas de multi cores, vestia uma túnica branca, fina, de onde transparecia integralmente o seu corpo esguio e franzino. Segurava numa das mãos um pote de cristal, de onde retirava sais aromáticos que ia espalhando na água da banheira.
Logo que entrámos, Amélia apresentou a nova personagem.
Esta menina chama-se Pelítia, é minha aia, mantem-se permanentemente ao meu lado e satisfaz-me em todos os meus desejos.
Enquanto fazia esta apresentação, Amélia passava meiga e lentamente a costa dos seus dedos pelo rosto de Pelítia. Enquanto que esta, mantendo o olhar baixo, desenhou uma breve flexão de joelhos, demonstrando obdiência e assentimento.
Achei que não me devia dirigir a Pelítia, mas não deixei no entanto de a observar, tentando intuír o significado de todo aquilo que se me estava a revelar.
Amélia parou em frente a Pelítia e voltou-se de costas, enquanto esta, poisando o pote dos sais lhe retirou o robe que a cobria. Depois, Amélia, deu-me de novo a mão e conduziu-me à banheira, de onde tinha começado a saír um leve vapor de água. Entrámos, a água estáva surpreendentemente gelada, porém isso não me causava qualquer incomodo, pelo contrário, senti que aquele gelo em contacto com a pele, me conduzia para um bem estar relaxante, convidando-me a descontraír. Entrei completamente naquela água revigorante, semi-cerrei os olhos e senti os pensamentos de novo a viajar. Lentamente, voltei a concentrar a atenção no local onde estava e em tudo o que me rodeava , abri os olhos. Estava realmente dentro daquela imensa banheira, onde tambem se encontravam Amélia e Pelítia, que suavemente deitava água com uma concha de prata sobre os ombros da sua ama...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Dois dias depois do ano Novo do Bartolomeu

Bartolomeu...
Por entre uma ligeira penumbra vislumbrei uma figura feminina que me observava colocada de pé, ao lado da cama onde permanecia deitado e que chamava o meu nome.
Em seguida, olhei em redor, tentando erguer-me, mas de imediato, uma vertigem obrigou-me a deitar novamente.
Bartolomeu, chamou de novo a figura feminina que agora ajoelhara ao meu lado e me acariciava dos cabelos diligentemente.
Olhei aquele rosto fino, agradável que me olhava com carinho, mas que eu não conhecia.
Aparentava pertencer a uma mulher que andaria pelos 45 anos, pele clara, lisa, olhos expressivos, enormes, escuros, emoldurados por uma cabeleira forte, brilhante, comprida.
Perguntei-lhe quem era e que lugar era aquele onde me encontrava.
Sorriu-se diligente, enquanto mantinha os seus dedos ocupados com o meu cabelo em suaves carícias.
Não te lembras de mim, Bartolomeu?
Sou a Amélia!
Amélia!?
Uma corrente de pensamentos, atravessou-me a memória num ápice. Um rosário de imágens, de frases, de sons difusos relembraram-me a Amélia que tinha conhecido num momento, que não conseguia lembrar se era distante, ou recente. A memória trouxe-me então a imágem mais nítida dessa Amélia e constatei que diferia daquela que agora se apresentava à minha frente.
Perdão, a senhora não é a Amélia de que me recordo, a Amélia que...
Neste momento a nova Amélia colocou suavemente os seus dedos sobre os meus lábios e, exibindo um sorriso sedutor declarou. Vamos esquecer o passado, a partir deste momento só o futuro irá contar. Combinado?
Sem saber o que responder concretamente, voltei a tentar erguer-me, novamente me assaltou uma vertigem, mas desta vez, suportável. Reclinado na cama, olhei à minha volta, tentando identificar o local onde me encontrava.
Amélia levantou-se também e correu os pesados reposteiros em veludo azul-escuro, quase negros que protegiam o quarto da claridade exterior.
Que dia é hoje, perguntei?
Dia 2 de Janeiro de 2008, respondeu Amélia sorrindo.
Dia 2? Então estou aqui ha 2 dias?
Amélia riu-se de novo - Tens estado a descansar, assim, vais iniciar o novo ano pleno de energia!
Enquanto colocava estas perguntas e recebia as correspondentes respostas, senti que algo no meu pescoço me incomodava. Levantei a mão direita e apalpei o lado esquerdo do pescoço que me parecia dormente e onde tacteei dois pontos, como se fossem duas borbulhas.
Amélia percebeu o meu gesto e aproximando-se da cama onde me encontrava, ajoelhou-se novamente, aproximou o seu rosto do meu e sem que esperasse, depositou um longo e suave beijo nos meus lábios.
Em seguida anunciou, tens o banho pronto Bartolomeu. Quando terminares, dentro destes armários encontras roupas para vestires, basta que escolhas de acordo com o teu gosto.
Isto não pode estar a acontecer comigo, pensei de mim para mim.
Como que adivinhando os meus pensamentos, Amélia depositou novo beijo nos meus lábios, mas desta vez mais ardente, mais intenso, mais prolongado ao qual senti o impulso incontrolável de corresponder. Enquanto nos beijávamos, Amélia libertou-se do longo robe que vestia, ficando somente coberta por uma diáfana camisa de dormir em seda rosa-claro que deixava adivinhar as sensuais curvas do seu corpo.
Atirando para trás os seus longos cabelos negros e fixando de uma forma penetrante o seu olhar em mim, declarou numa ânsia... vais ser completamente meu. Seguiram-se momentos inenarráveis de ardentes beijos e carícias, de novo, perante o meu olhar extasiado Amélia voltava a transformar-se, aparentando estar mais jovem ainda. As carícias mútuas e os beijos aumentaram de rítmo, os corpos de ambos fundiam-se já um no outro, quase indistintos, rolando sobre o vasto leito, apertando-se, colocando-se indistintamente um por cima do outro, desejando ardentemente entrar um no outro. Foi então que Amélia, retirando por completo a breve camisa de seda e, revelando na totalidade o seu esbelto corpo nu, se colocou sobre o meu ventre e segurando com firmeza o meu membro que estalava de rijeza e desejo de a penetrar, num gesto ágil de cintura, o conduziu para o interior de si.
Nesse momento, o céu e a terra rodopiaram vertiginosamente em torno de mim. Cerrei os olhos e deixei-me embalar completamente pelo rítmo que Amélia imprimia ofegante, murmurante. Deliciei-me com a sensação de sentir o seu interior envolvente, de sentir os seus seios rijos pressionando o meu peito, enquanto os seus lábios, junto aos meus, entoávam mormúrios que mais pareciam orações ininteligíveis. De súbito Amélia envolveu-me num abraço, um abraço que apertou ao mesmo tempo que o seu corpo estremecia interiormente e da sua garganta saía um som profundo de fera que caça a presa, denunciador de ter atingido um estado de prazer dilacerante. Aqueles pasmos musculares repetiram-se vezes seguidas. Por um momento Amélia abrandou o rítmo alucinante a que a sua cintura se remexia e a sua cabeça se revolvia, fazendo com que os longos cabelos lhe cobrissem por completo o rosto e o peito. De novo, Amélia retomou os movimentos circulares e de vai e vem que executava com a sua cintura, rins e zona pélvica, de novo me abraçou, sussurou, gemeu e de novo num êxtase incontível, desta vez mais prolongado, o seu corpo estremeceu, enquanto unindo a sua boca com a minha mordia ferozmente os meus lábios.
O calor que emanava do seu corpo queimava e transmitia-me uma sensação que me era desconhecida. Nunca um corpo de mulher me tinha provocado sentimentos tão intensos, como o de Amélia...

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Segui então o mordomo que me conduziu através de escadarias e longos corredores iluminados unicamente por escassos candelabros, intervalados por enormes telas a óleo, exibindo figuras de pessoas antigas, que deduzi serem antepassados da marquesa Amélia.

Chegados ao final de um dos corredores, Jarbas parou súbitamente em frente a uma porta de enormes dimensões e declarou abrindo a mesma: Este é o quarto destinado a V. Exª. se desejar algo, basta que accione a campaínha que se encontra ao lado da cama, bom repouso.
Entrei no quarto, era amplo, composto por mobiliário que parecia saído de uma sala de museu. Suspenso do tecto, um imenso candeeiro de 12 braços em latão antigo, as paredes forradas integralmente a tecido de damasco azul-escuro, salpicado de finas ramagens prateadas, o chão, em tabuado, apresentava-se coberto por uma enorme carpete persa de pelo alto, com motivos florais em tons grenat. Todo este conjunto, conferiam ao quarto uma atmosfera opressiva e de certo modo arrepiante. Entretanto, Jarbas fechara a porta atrás de mim.
De um lado do quarto, uma janela enorme, rasgada para a mesma paisagem que se admirava do largo onde o meu carro tinha ficado estacionado.

Na parede do fundo, outra porta dava acesso a um amplo vestíbulo onde, de um e outro lado se perfilávam dois enormes armários em mógno com portas trabalhadas exibindo figuras mitológicas gravadas em alto relevo.

Ao fundo do vestíbulo outra porta dava passagem para o quarto de banho. Imenso, todo revestido em pedra mármore rosa, com uma parede toda em espelho e uma banheira que lembrava uma piscina olímpica.

Senti então algum torpôr físico sinal de que efectivamente estáva a necessitar descansar um pouco. Despi-me, deitei-me e não me lembro de ter adormecido, acordei sonhando que ouvia uma voz longínqua, suavemente chamando o meu nome, Bartolomeu... Bartolomeu...

Aquele chamamento levemente encantantório, fez-me recuperar lentamente a lucidez, enquanto se tornava mais nítido e mais presente, Bartolomeu...

Abri os olhos...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Passámos um tempo indeterminado naquela extasiante admiração, saímos dela quando Amélia, tocando a minha mão me convidou a fazer-lhe companhia para o pequeno almoço.

Aceitei. Saí do carro, abri-lhe a porta e prontifiquei-me para a ajudar a saír. Olhou-me com alguma altivez e declarou: não precisas incomodar-te consigo perfeitamente saír, basta que me ofereças a tua mão. Assim fiz, delicadamente pousou a sua sobre a minha e sem dificuldade abandonou o banco do carro. Quando subíamos a breve escadaria em pedra da mansão, a vetusta porta em madeira de carvalho trabalhado, na frontaria do edifício abriu-se, mostrando a figura austera de um mordomo, que fazendo uma ligeira vénia reverencial, cumprimentou a minha mais recente amiga, dirigindo-lhe um: Bom dia Srª. Marquêsa.

Marquêsa? Oh com um raio, e agora? Como é que se toma um pequeno almoço à mesa com uma marquêsa?

Talvez adivinhando as minhas cogitações e inseguranças, pediu-me que lhe oferecesse o meu braço e sossegou-me dizendo: Bartolomeu, a aristocracia de hoje, não faz questão em observar as mesmas regras espartilhantes de outrora. Não nos tornámos trogloditas, mas aligeirámos, ou se preferires, ajustámos as etiquetas seculares aos tempos actuais. Por isso descontrai-te e sê tu próprio, só assim, poderemos sentir prazer na companhia um do outro.

Não pude evitar um riso denunciador de algum nervosismo e decidi seguir o conselho de Amélia, descontraindo-me.

Desde que saímos do carro, notei que Amélia se tinha transformado um pouco, quase podia afirmar que a via rejuvenescer, notava-lhe mais agilidade, mais vitalidade no rosto e no sorriso. O seu passo era firme e elegante, a postura um misto de altiva e diligente e o trato subtil e carinhoso, uma verdadeira dama aristocrata.

Chegádos à salinha onde iria decorrer o pequeno almoço e onde a mesa se achava já posta, convidou-me a sentar ao seu lado. Afastei o seu cadeirão, e voltei a colocá-lo para que se sentásse e em seguida ocupei o lugar que me havia indicado.

Em seguida, Amélia fez sinal à empregada que entretanto aparecera rigorosamente fardada e empurrando um carrinho de copa repleto de pratos e travessas tapados por campânulas, para que nos servisse.

Foi-nos servido um pequeno almoço a que noutra situação, chamaria um almoço, mas que me soube divinalmente. Terminada a refeição, Amélia fez questão de me contar abreviadamente a história daquele palacete desde a sua construção, passando de relance pelas origens da ancestral família a que pertencia.

Em seguida, Amélia voltou a fixar o seu olhar doce e penetrante no meu e declarou que desejava que lhe satisfizesse um desejo.

Com todo o gosto, declarei-lhe.

-Desejo que passes o dia na minha companhia e se te apetecer descansar um pouco, tens um quarto pronto para te receber.

Tentei declinar a oferta, desculpando-me com o incómodo que iria causar. Recusou as minhas desculpas, declarando-se ofendida se eu não aceitásse.

Um pouco embaraçado, decidi aceder.

Amélia tocou uma campaínha que se encontrava sobre a mesa e de imediato apareceu o mordomo que nos tinha aberto a porta.

Jarbas, conduza o Sr. Bartolomeu ao quarto azul.

Certamente Senhora Marquesa. E voltando-se para mim, indicou-me o caminho a seguir.

Despedi-me de Amélia que se manteve sentada à mesa do pequeno almoço e se despediu também, enviando-me um sorriso algo enigmático. Senti de novo um tremendo arrepio que me percorreu a coluna vertebral, porém, ao contrário do anterior, este revelou-se-me bastante desconfortável.

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Abri a porta do carro, e ajudei Amélia a entrar. Fez questão que não a tratasse cerimoniosamente, afinal estáva a prestar-lhe auxílio e já me considerava um amigo.

Saímos do estacionamento e perguntou-me se conhecia Cascais. Sim, conheço perfeitamente!

Dirigimo-nos então para a marginal Lisboa-Cascais e, serenamente embalados por uma conversa que deixou de ser de circunstância e passou para um campo mais íntimo, em que, descontraídamente fomos relatando as experiências que ocorreram nas nossas vidas, enquanto percorríamos aquela belíssima via, àquela hora quase deserta e possuidora de um encanto, de uma magia especial.

Chegados a Cascais, a minha amiga Amélia foi-me indicando os caminhos a seguir até que atingímos o ponto extremo da cidade, voltado para o oceano e a serra de Sintra. Aí apontou-me um enorme portão em ferro, enquanto pressionava o comando electrónico que o fêz abrir. Entrámos numa estradinha calcetada, ladeada por aquilo que me pareceu serem cedros seculares, enquanto atrás de nós o portão se voltava a fechar eléctricamente.

Andámos algumas centenas de metros por essa estradinha calcetada, indo desembocar num largo em frente a uma mansão de estilo romântico, perfeitamente conservada. Chegámos, disse Amélia, para onde achares melhor. Confesso que me senti um pouco oprimido, perante a magnificência do edifício e tal como uma criança deslumbrada, perguntei: moras neste palácio?

Soltou uma jovial gargalhada e retorquiu: não sejas exagerado, isto não é um palácio, gostas?

Sim efectivamente é lindo, um pouco grande, mas maravilhoso.

A manhã começava a fazer-se adivinhar e, apesar da folia da noite e das bebidas ingeridas, confesso que não sentia a necessidade de dormir, pelo contrário, sentia-me excelentemente na companhia de Amélia, aproveitando o nascer do dia, naquela paisagem maravilhosa em que de um lado se admirava o extenso oceano e do outro a magestosidade da serra de Sintra...

O Ano Novo do Bartolomeu

Olá minhas queridas e meus queridos amigos!!!!
Saudações fraternas para todos vós!!!!
Imagino que muitos de vós, sintam já saudades deste vosso amigo, tantas talvez, quanto aquelas que ele sente de vós.
Sucede que esta ausência, como tudo na vida tem uma razão de ser e por conseguinte uma explicação. E essa explicação, posso chamar-lhe de certa forma insólita, apesar de não a poder considerar inédita, pois aquilo que sucedeu comigo e que lhes relatarei de seguida, aconteceu já com muitíssimas outras pessoas.
Eu conto-lhes.
O ano que terminou às 24 horas do dia 31 de Dezembro p.p., foi para a maioria de nós, parco em acontecimentos que nos fizessem sentir satisfeitos, como se costuma dizer... felizes por ter nascido. Por isso, quando nessa noite me dirigia para o local onde tencionava comemorar a passagem do ano velho para o novo, formulei mentalmente um desejo, dirigido ao deus dos bacanos, em que lhe pedia a interferência para fazer cruzar no meu caminho, uma mulher. Não fui exigente nos predicados. Pedi simplesmente que fosse divertida, inteligente e apreciadora do farfalho. Porem a noite decorreu paulatinamente, apesar da animação e alegria reinantes no local e, até à hora de me dirigir de novo ao carro para voltar a casa, a mulher do pedido formulado, não se havia ainda manifestado. Foi então que reparei perto do meu carro, numa idosa que notei estar a necessitar de ajuda. Apróximei-me e percebi tratar-se de uma senhora que aparentava estar perto dos 80 anos, apesar de as roupas demonstrarem algum desalinho, percebia-se que era pessoa de fino trato, cujo rosto exibia ainda traços de uma beleza que não se havia extinguido completamente.
Acerquei-me dela e indaguei se a poderia ajudar, ergueu os olhos, que apesar do escuro da noite se notava possuirem ainda um brilho com certo fulgor. Enviou-me um sorriso grato, acompanhado de um ligeiro esgar de dor e estendendo-me a mão, pediu que a ajudasse a erguer.
Assim fiz. Com muito cuidado, segurei-lhe a mão e apoiando-a por trás, ajudei-a a levantar-se. Já de pé, mas ligeiramente cambaleante, perguntou-me o nome, esclarecendo que se chamava Amélia. Bartolomeu, respondi-lhe. Ah tal como o louco padre jesuíta que cismou, um dia seria capaz de voar? Exactamente, tal como esse. Nesse momento, fixou bem o brilho mais intenso dos seus olhos nos meus, endireitou muito bem o tronco e depois de uma pausa de alguns segundos, afirmou veementemente: Voarás ! um dia voarás!
Confesso que naquele momento, um arrepio gelado percorreu a minha coluna vertebral e, tentando quebrar o momento de sem-jeito, perguntei-lhe se a poderia conduzir a algum lado. De novo exibiu o sorriso que já me começava a conquistar e perguntou-me se estaria disposto a leva-la a casa. Concerteza, sem favor, bastaria que para tanto me desse a indicação da morada...